Esquerda, direita, marche!
Um dos problemas da política portuguesa assim que um governo toma posse é fazer tábua rasa de tudo o que foi feito pelo governo imediatamente anterior (do partido adversário, bem entendido), mesmo quando muitas dessas coisas eram francamente positivas. Na educação, então, nem é bom falar – e quantos alunos sofreram reformas sucessivas ao longo da sua vida escolar por causa disso… Fiquei, porém, bastante surpreendida quando, recentemente, o actual Secretário de Estado da Cultura nomeou para a direcção artística do Teatro Nacional D. Maria II Tiago Rodrigues: é que este actor e encenador é claramente uma pessoa de esquerda e foi até um dos principais oradores num encontro de apoio de gente da Cultura a António Costa quando este avançou contra Seguro. A seguir, nomeou como administrador do mesmo teatro Miguel Honrado, que até agora dirigia a EGEAC, empresa municipal encarregada da animação cultural na cidade de Lisboa e igualmente apoiante de Costa. Algum tempo mais tarde, Barreto Xavier nomeou Margarida Veiga para a Direcção-Geral das Artes – e lembro-me de Margarida Veiga estar no CCB na altura em que Guterres era Primeiro-Ministro, por isso calculo que seja próxima do PS. Não sei se o Secretário de Estado está a querer que o despeçam, se já está a preparar o futuro (diz-se que o PS tem tudo para ganhar as próximas eleições), se simplesmente não há na Direita ninguém que se aproveite para esses cargos; se, por último, decidiu fazer tábua rasa da tradição política portuguesa dos últimos anos e escolheu simplesmente quem lhe pareceu melhor.