Estrangeira em qualquer lugar
Estará à venda a partir de amanhã um livro que me chamou a atenção por partir de uma premissa altamente atraente: como aprende a falar uma filha de pais surdos? E em que língua sonha essa rapariga/mulher que vive em todo o lado sem pertencer a lugar nenhum? E como, estando longe, comunica com os pais que a não ouvem? E porque, afinal, se apaixona pelas línguas e se torna tradutora? Fiquei logo curiosa, li-o de um golpe e soube que queria publicá-lo. É um misto de memórias, ficção, romance de formação, autobiografia, enfim, um livro pouco convencional e por isso mesmo inovador. Chama-se Sempre Estrangeira e escreveu-o a italiana Claudia Durastanti que, nascida em Brooklyn, em Nova Iorque, é recambiada para uma minúscula aldeia em Itália quando os pais, que acham ter salvado a vida um do outro e nunca se vitimizam pela sua deficiência (pelo contrário!), decidem separar-se, deixando a Claudia uma experiência de vaivém que a levará a replicar o comportamento migratório até hoje, seja atrás dos estudos, seja inclusivamente atrás do amor. Este é um livro maravilhosamente escrito, uma viagem em busca de auto-afirmação, em que a geografia, a arte e a linguagem são ao mesmo tempo armas de revolta e de redenção. Obrigatório ler. A tradução é do poeta Vasco Gato.
Ups! Parece que o livro afinal só sai na terça-feira da semana que vem. Mil perdões.