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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

08
Fev17

Estranho estrangeiro

Maria do Rosário Pedreira

Com o Brexit e a saída do Reino Unido da União Europeia, com a subida ao «trono» de um Trump tresloucado que proibiu logo nos primeiros dias a entrada nos Estados Unidos de pessoas oriundas de uns quantos países, não está a ser nada fácil ser estrangeiro em algumas nações onde se fala inglês (o Canadá, pelos vistos, é outra história). Em inglês, a palavra para «estrangeiro» é «foreigner» – e um dia destes, à mesa, o Manel perguntava qual seria a sua origem. Pus a hipótese de derivar de uma palavra próxima de «fora» por causa do comecinho – e não me enganei muito, pois concluí que vem do francês antigo «forain», palavra que significava «aquele que vem de fora» e que, com o passar do tempo, passou a designar o proprietário de carrosséis ou outras atracções de feira, pois habitualmente os que vinham montar feiras e circos andavam de terra em terra, sendo quase sempre estrangeiros. Curioso é que a palavra que nós e os espanhóis usamos também vem do francês – «estrangier», hoje «étranger» (a partir de «étrange», «estranho»), que por sua vez deriva do latim «extraneus» (como o «straniero» italiano); ora, este «extraneus» inclui a partícula «extra», que quer dizer «fora de». (Assim sendo, «extraordinário», palavra que está no título do presente blog, é no fundo «fora do comum»; que grande pretensiosa me sinto agora ao dizê-lo.) Descubro ainda que «extra» contém o prefixo indo-europeu «eghs» que, em grego, está presente em palavras como «êxodo» – e cheira-me que nos Estados Unidos vai haver um dia destes um verdadeiro êxodo forçado, que o senhor Trump não vai ficar por aqui. A xenofobia também vem do grego, significa medo dos estrangeiros, mas na era Trump são os estrangeiros que têm razões para ter medo.

10 comentários

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    Paulo Oliveira 08.02.2017

    Nas minhas visitas aos países do Norte europeu, muito antes destes problemas, sempre senti preconceito talvez motivado pela minha cara morena. O assunto é assim complicado, bem sei, e deve ser analisado dos dois lados, do de quem chega e do de quem recebe. Uma coisa é certa, com fechamentos, com redomas, muros e trumps não vamos lá.
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    António Luiz Pacheco 08.02.2017

    Caríssimo Paulo Oliveira: refugiados?
    Eu vejo uma esmagadora maioria de homens em idade adulta, capazes de lutar... muito poucas famílias, com mulheres, velhos e crianças... reparo sempre nisso! Serão mesmo "refugiados"? Ou serão migrantes apenas, em busca sabe-se lá do quê...
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    Paulo Oliveira 08.02.2017

    Pacheco, não falei em refugiados ou migrantes, sei lá distingui-los. Mas sei que são pessoas. Não viu Alepo? No meio deles vem muito ladrão, muito aldrabão, muito terrorista? Pois claro que vem e vêm juntar-se aos nossos, aos que já cá temos, mas a maioria será sempre gente como nós, que quer apenas viver em sossego. Também não sei resolver o problema.
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    António Luiz Pacheco 08.02.2017

    Compreendo-o... mas, o pior é o mas... quando vejo nas ruas de Londres uma multidão de homens (só homens, novos...) a gritar e a exibir a sua força, confesso que se me apaga essa outra imagem... aliás qual? As imagens das ruas de Alepo, mas essa gente fica lá, não vem para aqui. Os que vêm são só os tais barbudos em pose agressiva e de ódio.
    Esse o problema...

    Hoje de manhã dei umas notas , como habitualmente, a umas velhotas que estão a mendigar ali numa rua e já me conhecem e à minha mulher. Não compro nada, ou talvez compre uma espécie de consciência nem por isso tranquila, mas sei que é duro ser velho por aqui - mais do que por aí! Um moço novo, dos que vivem de expedientes como de lavar carros e são às centenas, apanhou-me distraído e desatou a passar o pano no carro, só que este havia acabado de ser limpo por um moço que habitualmente o faz (o Paulino, que me presta serviços como ir buscar gás ou despejar o lixo) eu mandei-o parar e disse que não lhe dava nada porque nem o carro precisava de ser limpo nem eu lhe dissera para o fazer. Aliás é comum... você abre a porta do carro e aparece-lhe um rufia a dizer que esteve "a controlar o carro" e pretende receber por isso, ou argumenta que limpou o carro que estava muito sujo, estabelecendo ele mesmo valor que tem de lhe dar!
    Reacção dele: Pula do caralho! Vem aqui roubar o nosso pão e nem quer me ajudar!
    Não me intimidei, que não podemos deixar-nos intimidar, dei dois passos na direcção dele que recuou, e disse-lhe na cara e bem alto para os demais ouvirem: Olha preto de merda, tu, não limpas nunca mais o meu carro e nem fazes nada, ouviste?

    Fiz bem? Fiz mal? Não sei... sei que estou aqui e tenho de lidar com estas situações... o que faria se na minha terra um barbudo viesse molestar alguém dos meus por causa da roupa ou coisa parecida, não sei e nem quero pensar nisso. Portanto prefiro manter os barbudos longe, para não ter que tomar atitudes. Se querem viver como entendem que o façam , lá na terra deles, maltratem as mulheres, atirem os maricas de cima de prédios, queimem os infiéis... mas façam-no na terra deles. Deus o livre que, por você pensar assim e ser tão aberto, tolerante e humano, amanhã não lhe aconteça alguma... acredite que se me deixar intimidar por um vadio que lava carros, nunca mais posso parar ali na rua sem ter de pagar a um porque controlou, a outro porque tirou o pó... não amigo Paulo, este Mundo cada vez menos está para gente que pensa como você, me perdoe e não entenda mal, mas a verdade é que os ousados e os maus se impõem e tomaram conta de tudo, seja o Trump sejam os barbudos!

    Abraço!
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    Paulo Oliveira 08.02.2017

    Pacheco, vou esclarecer melhor a minha posição: eu também não admito que venham para aí uns beatos dizer como me devo (não) barbear ou o que devem ou não mostrar as mulheres. Já nos livrámos da nossa padralhada, não queremos cá outra do mesmo género ou pior. Neste caso, caberá às autoridades competentes reprimir, tal como prever e combater os atos de terrorismo. Agora o que não posso presumir é que toda essa gente é assim, que vêm todos roubar-nos e incomodar as nossas mulheres. Primeiro começamos a pará-los com muros. Se ainda assim passarem faz-se a seguir o quê: matam-se a eito? Afogam-se no Mediterrâneo ou metem-se em campos de concentração?
    Bem sei, a situação não é fácil, êxodos sempre houve, mas por tais caminhos antigos não consigo ir.
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    Joaquim Jordão 08.02.2017

    Paulo
    Tendo a concordar com a sua prudência, em contraste com algumas opiniões “definitivas” que vamos vendo acerca da complexíssima e dinâmica questão que está em debate.

    Talvez ajude um pouco a serenar – e esclarecer – este artigo de Violaine Morin hoje mesmo publicado no jornal Le Monde: « Plonger dans l’histoire des migrations européennes pour résister à Trump »

    http://www.lemonde.fr/big-browser/article/2017/02/08/se-plonger-dans-l-histoire-des-migrations-europeennes-pour-resister-a-donald-trump_5076393_4832693.html
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    Paulo Oliveira 08.02.2017

    E já li. Podiam ter acrescentado o exemplo do herói americano Jobs, que não existiria, nem ele, nem a Apple, se o pai sírio tivesse sido barrado. Mas gostei do conceito que desconhecia, o ponto Godwin. Talvez associar Trump a um novo Hitler seja realmente tão grotesco quanto dizer, como parecem dizer aqueles assanhados tipos do Observador, que todos os anti-Trump são perigosos radicais de extrema-esquerda.
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    Anónimo 08.02.2017

    E Trump não tem imigrantes na família? Tá bem, abelha.
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    Anónimo 08.02.2017

    Jobs, herói? Em que mundo vivem vocês?
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