Excerto da Quinzena
A vilegiatura marítima começa em Monte Gordo num período de crise para os pescadores locais. É certo que nunca lhes pertenceram os meios de pesca, nem as embarcações nem as redes de arte, e que os tempos, portanto, nunca foram de abundância. Mas aí, nas xávegas, sempre tiveram lugar como parceiros ou como contratados. Acontece que a xávega tem os dias contados, ameaçada pelas armações de sardinha, pelos cercos e galeões, as parelhas de arrasto espanholas, práticas predatórias a desviar ou a delapidar os cardumes, a destruir os fundos marinhos. Não vai longe o tempo em que o Capitão do Porto de Vila Real de Santo António se lamentava de a indústria piscatória se encontrar limitada à pesca da sardinha com xávegas, quando era tanta, e inaproveitada, a riqueza destes mares. Pois agora, na década de 1890, com os cercos a apanharem os cardumes de pelágicos antes de estes se aproximarem da costa, com anos sucessivos de arrastos predadores a destruir os fundos marinhos, o pobre aglomerado "decai a olhos vistos pela escassez da pesca da sardinha", com as poucas Barcas ainda em actividade a fazerem lanços miseráveis.
José Carlos Barros, Os Filhos de Monte Gordo, Fundação Francisco Manuel dos Santos