Excerto da Quinzena
Antes do excerto, queria esclarecer, porque parece não ter ficado claro para alguns, que o que se pretende nesta actividade quinzenal é que os Extraordinários publiquem excertos de livros que leram e que aconselham, e não necessariamente excertos dos livros que andam a ler, e muito menos passagens dos seus próprios livros, estejam ou não publicados. Dito isto, segue o meu excerto de hoje:
Havia um homem que amava as ilhas. Nascera numa, mas não lhe agradava por ter gente demais. Queria uma ilha só para ele: não necessariamente para lá viver sozinho, mas para fazer dela um mundo seu.
Uma ilha grande demais não é melhor do que um continente. Para ser sentida como tal, uma ilha tem de ser, de facto, bastante pequena - e este conto mostra como tem de ser minúscula, para podermos ter a sensação de que está cheia da nossa personalidade.
Ora as coisas proporcionaram-se de modo a este apaixonado por ilhas vir, realmente, a comprar uma ilha quando chegou aos trinta e cinco anos. Não a possuía em termos absolutos, mas comprara-a a noventa e nove anos, o que, pela parte que toca a um homem e a uma ilha, vale uma eternidade.
«O Homem Que Amava as Ilhas», in Amor no Feno e Outros Contos, de D. H. Lawrence, tradução de Maria Teresa Guerreiro