Excerto da Quinzena
Aos sábados, o jantar era sempre o mesmo em Pencey. Era considerado uma coisa do caraças, por ser bife. Apostava mil palhaços em como só o faziam porque havia uma data de pais de alunos que aos domingos iam visitar os filhos, e o velho Thurmer às tantas achava que as mães todas iam perguntar aos seus queridinhos o que tinham comido ao jantar e eles respondiam: «Bife.» Não me lixem. Haviam de ver os bifes. Umas coisas ínfimas e duríssimas que mal se podiam cortar. Davam-nos sempre aquele puré cheio de grumos na noite do bife e à sobremesa um Brown Betty, que ninguém comia, a não ser talvez os miuditos dos primeiros anos- que não percebiam nada de nada - e tipos como o Ackley, que comiam tudo e mais alguma coisa.
Mas quando saímos do refeitório estava bonito. Havia uns dez centímetros de neve no chão e ainda continuava a cair que era uma loucura. Era bonito como o raio, e começámos todos a atirar bolas de neve e a fazer macacadas por ali à toa. Era uma coisa de putos, mas era um gozo bestial para toda a gente.
Eu não ia sair com ninguém nem coisa que se parecesse, por isso, eu e um amigo que pertencia à equipa de luta livre, o Mal Brossard, decidimos apanhar o autocarro e ir até Agherstown comer um hamburguer e talvez ir ver um filme merdoso [...]
J. D. Salinger, À espera no Centeio, tradução de José Lima