Excerto da Quinzena
«Alguns minutos depois, Gudmund desceu à sala envergando o seu trajo de núpcias. Estava pálido, ardiam-lhe os olhos num brilho ansioso, mas nunca ninguém o vira tão belo. Os traços do rosto estavam como iluminados por uma luz interior, parecendo a quem o via um ser feito de alma e de vontade, e não de carne e de sangue.
Na sala tudo tomara um ar solene. A mãe vestira-se de preto e trazia nos ombros- o seu belo xaile de seda, embora não fosse assistir ao casamento. Todos os criados tinham também envergado os seus mais vistosos trajos. Folhas frescas de bétula guarneciam a chaminé e pratos variados e suculentos cobriam a mesa, revestida de uma alva toalha.
Terminado o almoço, a mãe Ingeborg leu um salmo e alguns versículos da Bíblia. Depois, dirgindo-se a Gudmund, agradeceu-lhe o ter sido sempre bom filho, desejou-lhe felicidades para o futuro e deu-lhe a bênção. Sabia falar bem e Gudmund comoveu-se. Os olhos velaram-se-lhe mais de uma vez, mas conseguiu vencer a vontade de chorar. O pai pronunciou também algumas palavras.
– Bastante duro vai ser para nós perder-te – disse ele.»
Selma Lagerlöf, «A rapariga do Brejo Grande», in O Livro das Lendas,
tradução de Pepita de Leão, Livros do Brasil