Excerto da Quinzena
Às quatro da tarde de uma quarta-feira, a revisora Kim Eun-sook levou sete bofetadas na face direita. Foi atingida repetidamente, e com tanta força, no mesmo sítio que a rede de vasos capilares sob a maçã do rosto se rompeu e o sangue começou a correr pela pele rasgada. Quantas bofetadas apanhara até isso acontecer? Não tinha a certeza. Limpou o sangue com a palma da mão ao sair para a rua. Naquele final de Novembro, o ar estava frio e límpido. Quando ia a atravessar na passadeira, estacou, pensando se deveria voltar para o escritório. A pele estava a ficar cada vez mais retesada sobre a face, que inchara de um momento para o outro. Ficara surda do ouvido direito. Mais uma bofetada e o seu tímpano teria rebentado. Engoliu o sangue com um sabor metálico que se lhe acumulara nas gengivas e dirigiu-se para a paragem do autocarro que a levaria a casa.
Han Kang, Atos Humanos, tradução do inglês de Maria do Carmo Figueira