Excerto da Quinzena
Falei à Alexandra no Prozac. Ela ficou admirada. «Pensei que era contra as terapêuticas medicamentosas», disse. «Mas parece que se trata de uma coisa completamente nova», expliquei. «Não cria habituação. Não tem efeitos secundários. Nos Estados Unidos até as pessoas que não estão deprimidas o tomam porque as faz sentir muito bem.» Claro que a Alexandra sabia tudo sobre o Prozac e deu-me uma explicação técnica de como o medicamento actua, contando-me tudo sobre os neurotransmissores e os inibidores da captação de serotonina. Não consegui acompanhá-la. Disse-lhe que já andava um bocado lento na captação e que não precisava de mais inibidores, mas parece que percebi mal aquilo a que ela estava a referir-se. A Alexandra tem algumas dúvidas em relação ao Prozac. «Não é verdade que não tenha efeitos secundários», disse. «Até mesmo os seus defensores admitem que inibe a capacidade do doente para atingir o orgasmo.» «Bem, desse efeito secundário já eu ando a sofrer», por isso tanto me faz tomar o remédio como não tomar.» A Alexandra deu uma gargalhada, mostrando os dentes um pouco grandes, no maior sorriso que alguma vez consegui arrancar-lhe.
David Lodge, Terapia, tradução de Maria do Carmo Figueira