Excerto da Quinzena
Sinto-me completamente esgotado, e esgotadas as reservas de oxigénio intelectual e físico que pude armazenar com os dois anos que consegui estar fora. O meu passaporte já vai fazer três anos de novo, sem um carimbo salvador para onde quer que seja! A exaustão da exaustão leva este gato vadio a pôr a pata no ar e, por uma vez na vida de um gato, a olhar insistentemente para si, como única chance de salvação. Sei que a Menez, também tomada de angústias, vendeu um guacho da Maria Helena, o que vai proporcionar-lhe uma saída daqui para fora. Seria tão grave para si como o é para mim pedir-lhe que me enviasse, me desse, um guacho libertador, talvez por mais dois anos, talvez para sempre, desta morte no vácuo. [...]
Carta de Mário Cesariny a Vieira da Silva de Julho de 1968, in Gatos Comunicantes: Correspondência entre Vieira da Silva e Mário Cesariny 1952-1985