Excerto da Quinzena
[...] Mãe, a senhora que diga se o santo tombou na fundura, diga, mãe, se for de tombar eu não tenho medo. Mais medo me dá que meu irmão seja sozinho à boca dos bichos, a podrir por feridas que abra, perplexo no abandono. A senhora que diga, mãe, a senhora que diga onde devo ir.
Mariinha dos Pardieiros senrou-se sobre os joelhos, desmoronada. Ruíra de si mesma. Era pelo chão. Dizia que o menino entrara na escuridão. Ficara tão escuro em volta que não se tornava mais possível enxergar coisa alguma.
Certamente pelo medo, pela pressa do sangue no interior do corpo, o espelho silente nsinuava ondular. Ou o modo como caíramos de corpos no chão abalara as madeiras e o espelho reflectiu sua pequena vertigem. Ondulou. Tive a impressão de se mover sozinho, aflito por dentro, na sua ínfima espessura onde todas as coisas eram apenas fantasmas das coisas reais.
Valter Hugo Mãe, Deus na Escuridão