Excerto da Quinzena
Tudo isso iria mudar. Já estava a mudar. Afinal de contas, aquele poderia ser o seu lugar. Por vezes, lá acontece encontrarmos o nosso espaço próprio, o predestinado a cada pessoa. O cantinho de terra, barro e árvores onde nos podemos deixar estar. De uma janela a outra. Até a cozinha, as lareiras. Tomando notas a lápis. Saindo para o alpendre para então se fixar na extensão de terreno que a rodeava, o passar do tempo e as suas sombras. Repetindo para si mesma: Sou compassiva. Sou universal. Sou absoluta. Uma reiteração associada ao rito. A um cerimonial em que se repetia a mesma fórmula como se se tratasse de um hino ou de um poema. Sem parar para pensar no seu significado. Sem refletir sobre a relação que pudesse existir entre as palavras. Sem esforço de memória.
Assim se comportava uma das mulheres de Betânia. Aquela a quem chamavam Coro.
Pilar Adón, De Bestas e Aves, tradução de Rui Elias