Fazer-se difícil
Gosto muito da expressão «fazer-se difícil», e ela hoje vem muito a propósito, uma vez que condiz bem com a história que vou contar. Roubei-a no mural do meu querido autor Itamar Vieira Junior (o vencedor do Prémio LeYa com Torto Arado) e é notável, sobretudo vinda de quem vem: Faulkner, que (não por acaso) é um dos autores preferidos de Lobo Antunes e que, muito ao avesso dos seus confrades norte-americanos (habitualmente secos na prosa e mais dedicados ao enredo e à estrutura), tem uma escrita muito pouco linear, frequentemente visceral e algo exigente. Ora, parece que uma jornalista lho fez notar ao longo de uma entrevista, perguntando-lhe o que diria ele às pessoas que liam duas e três vezes passagens dos seus livros e, ainda assim, continuavam sem perceber nada. William Faulkner respondeu com graça, aconselhando-os a tentar lê-las uma quarta vez... Sobre autores difíceis (e não é que se façam de difíceis, é mesmo o seu natural), e para homenagear a pátria de Itamar Vieira Junior, recomendo Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Preparem-se: demora a entrar, e é para lá ficar dentro bastante tempo.