Dizem que todos somos marcados pela infância que tivemos – e isso é mais do que certo para José, o protagonista de O Caçador do Verão, o novo romance de Hugo Gonçalves (publicado cerca de dois anos depois do aclamado Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo). José nasceu e cresceu no seio de uma família um tanto desequilibrada – e, mesmo que o tente, não poderá esquecer aquele Verão em que a mãe o deixou numa aldeia algarvia em casa de uma desconhecida e se foi embora com um namorado para Espanha. Valeu ao rapaz a companhia de um trio de irmãos muito singular (e que são das melhores personagens do romance), estar no epicentro de uma aventura aliciante – a fuga da prisão uma perigosa quadrilha – e, por fim, ter um avô com a cabeça no lugar, que o vai recuperar ao fim de umas semanas e se portará doravante como seu pai. José, hoje quarentão e sem mãe, quer – por todas as razões – fugir a estas memórias magoadas, mas não consegue: o avô, com quem não fala há anos, convoca-o para uma reunião no lar onde vive. Afinal, que lhe quererá? Pois, é preciso chegar à última página para o saber... História séria mas com bons momentos de humor, triste mas com uma alegria muito terna, O Caçador do Verão é também um regresso a um certo Portugal que queria ser europeu, desconhecendo ainda o que isso tinha de perigoso.
"Quando um poeta falece, os poetas que ainda não faleceram têm por hábito elogiar muito a poesia do falecido. O mesmo não acontece com a classe dos padeiros ou, para não se dizer que comparo injustamente, com a classe dos larápios. Tal como seria bizarro que um padeiro que ainda não faleceu elogiasse as carcaças de um padeiro acabado de falecer, é pouco provável que haja larápio que, presente nas cerimónias fúnebres do larápio falecido, se lembre de elogiá-lo antes de se lembrar de lhe larapiar o que quer que lhe tenham posto nas algibeiras do fato com que vai para a cova. O fenómeno é certamente explicável, mas seria decepcionante se, votando-me agora às manhas da sociologia para demonstrar que faz parte da vocação de poeta elogiar outros poetas, deixasse de lado o caso particular do poeta que deveras faleceu há dias e cuja poesia foi elogiada por todos ou quase todos os poetas que, por razões que cabe aos deuses explicar, ainda não faleceram. Que a poesia de Herberto Helder não merece os elogios que recebeu, e que os poetas que o elogiam não merecem, portanto, senão a consolação de ainda não terem falecido como ele, eis o que a análise tratará de mostrar de seguida. Correndo o risco de estragar a surpresa que o título, tendencioso como qualquer título, talvez tenha estragado antecipadamente, nenhuns desses elogios são merecidos porque, apesar de o considerarem poeta, melhor o consideraria quem o considerasse uma criança tolinha. Para não maçar excessivamente quem leia, e porque revela o que há a revelar de uma criança tolinha que acabou laureada a demonstração das tolices de criança por que se destaca, das tolices púberes que lhe formaram o carácter e das tolices adultas com que se explica o resto da sua existência, divido a análise em três textos, cada um demonstrativo de cada um destes três géneros de tolice. Importa ainda avisar, não vá alguém queixar-se de ter sido enganado ao descer do pano do que ficar dito, que, sempre que chamar o poeta falecido ao palco para mostrar o que sabe fazer, assim iluminando o que afirmo através da ribalta da citação, me reportarei sobretudo à sua poesia inicial. Para o efeito, ela me chega. Quem achar, porém, que a parte da obra assim aclarada não representa o todo da obra do poeta, achando em propô-lo a má vontade ou a vilania de quem o propõe, não deve esquecer-se de que aquele que, por deformidade original, dá em nascer coxo a vida inteira passa a coxear. Em vez de tentar provar-se atleta, melhor faria tal coxo, de resto, se respeitasse o exemplo dado por quem assim nasceu e pusesse o empenho em “provar-se vilão”. Mereceria com certeza outras palmas. (...)"
Não li todo o texto do link e Nem me parece que mereça apesar de - até onde li - estar bem escrito, mas a forma não é tudo. Julgo que o autor não só não é poeta como se desentende do que é poesia. Não lhe aceito a pretensa crítica e à babugem não se responde.
Herberto Helder não é um dos poetas da minha preferência. Mas é um bom poeta. Enquanto poeta, É. Que a poesia não falece.