Futebol, ou nem tanto
Alguma vez eu poderia acreditar que ficaria entretida uma grande parte de uma noite por causa do futebol? Não, não se assustem: ainda não cheguei ao ponto de trocar um livro por um jogo (embora conheça grandes leitores que o fariam num piscar de olhos), mas peguei num pequeno livro que se chama Campo dos Bargos: O Futebol ou a Recuperação Semanal da Infância, de Jorge Reis-Sá, que a Fundação Francisco Manuel dos Santos recentemente deu à estampa, e li não sei quantos capítulos de enfiada. Este Campo dos Bargos é nada mais nada menos do que o campo vizinho à casa onde o autor viveu a sua infância em Famalicão e, claro, onde jogava a equipa do Vila Nova a que aderiu em criança. Mas, mesmo falando de futebol, é sobretudo um livro de memórias e o retrato de uma relação com o jogo que, não deixando de ser pessoal (nem todos os rapazes usaram um aparelho na perna por causa de uma injecção mal dada, impedindo-os de jogar), se torna universal pela quantidade de homens e miúdos que viveram e vivem a paixão pelo seu clube, por pequeno que seja, sofrendo e entusiasmando-se em cada partida e lembrando pormenores deliciosos envolvendo jogadores, familiares e até os herdeiros que, mesmo morando a milhas de distância, continuam a tradição de se «alistar» na equipa que foi sempre a da família. Acredito que muita gente se reveja neste pequeno texto muito afectuoso. Sobretudo quem gosta de futebol, mas não só.