Glosar e copiar
Muitos autores de todo o mundo, especialmente poetas, gostam de glosar textos dos seus antecessores. Gastão Cruz, um poeta muitas vezes premiado em Portugal, tem alguns livros em que, por exemplo, dialoga com poetas clássicos, como Sá de Miranda, usando versos de outros em itálico nos seus textos. É mesmo assim – e não se trata de roubo, antes de uma homenagem. Ora, um escritor argentino de 38 anos, Pablo Katchadjian, resolveu criar um projecto em que partia de três obras literárias publicadas e, conservando-as como núcleo, trabalhava à volta delas, acrescentando-as. E, entre outras, pegou n’O Aleph, de Jorge Luis Borges, e toca de criar o seu «Aleph Engordado», acrescentando 5600 palavras de sua autoria ao conto de Borges, reproduzido de fio a pavio. Ora com quem te foste meter… María Kodama, a viúva do escritor, achou isto um completo abuso e acusou-o nada mais nada menos de plagiar a obra do grande Borges (que, de facto, estava no meio da sua, e intocada), entrando com um processo na justiça. E, surpresa, o Tribunal deu razão a María Kodama e condenou o pobre Pablito a pagar uma quantia exorbitante… Já não se pode glosar...