Hora sem agá
Aqui há tempos chegou aos nossos jornais o anúncio de que o Brasil interrompera a aplicação do Novo Acordo Ortográfico por achar que muitas das alterações que continha não tinham sido bem pensadas e que sobre elas não tinham sido consultados os principais interessados – os professores de Língua Portuguesa, entre outros. Na altura, depois de a notícia ser francamente aplaudida pelos que aqui em Portugal se declaram contra o NAO, vim aqui prevenir, num post, que essa notícia não era necessariamente boa, uma vez que algumas pessoas mais informadas afirmavam que o Brasil não queria chumbar medidas, mas, afinal, acrescentar muitas outras ainda mais discutíveis e radicais. E tinha pelos vistos razão nesse aviso, pois parece que vai ser mesmo assim. Para começar, chega a proposta de suprimir de uma vez por todas o «h» inicial, tornando «hora» em «ora» e «homens» em «omens» pela simples razão de que, não tendo qualquer som, a letra não faz falta nenhuma e aparentemente só gera confusão (alegrem-se os que sempre confundiram «há» com «à», que são muitos). Mas não é tudo: o «ch» (como em «chumbar») também desapareceria para sempre, sendo substituído por um simples «x», explicando um dos responsáveis pela nova proposta que o objectivo é ter um sistema com um mínimo possível de regras e excepções (para não termos muito que pensar, enfim, pois pensar é cansativo e, segundo o senhor, quase ninguém no Brasil sabe escrever, pelo que o melhor é mesmo simplificar). E estas luminárias querem agora discutir a sua proposta por videoconferência com os outros países, como se a questão da língua fosse coisa de conversar por Skype… Está tudo dito. Que mais nos irá acontecer?