Humanidades e tecnologia
Num mundo hiperdigitalizado como aquele em que hoje vivemos, as Humanidades ainda terão lugar? Ao que parece, sim; e muitos dos que dirigem empresas profundamente tecnológicas vêm, surpreendentemente, das chamadas Letras: Susan Wojcicki, directora executiva do YouTube, estudou História e Literatura; Reid Hoffman, co-fundador do LinkedIn, e Stewart Butterfield, co-fundador da Flickr y Slack, licenciaram-se em Filosofia; e Carly Fiorina, ex-directora executiva da Hewlett-Packard, é formada em História e Filosofia Medieval. Os seus contributos para a reflexão sobre o futuro da ciência, a criatividade e o pensamento crítico são cada vez mais necessários ao desenvolvimento da sociedade tecnológica, sobretudo em matéria de tratamento de dados e inteligência artificial (IA). Aliás, as empresas de IA nos Estados Unidos contratam cada vez mais pessoas de Humanidades, especialmente gente ligada à comunicação, que saiba explicar ao público determinados conceitos e procedimentos, e também especialistas em ética. Há até uma máxima em Silicon Valley neste momento que, no fundo, se traduz por «Menos tecnologia, mais Platão», o que tem a sua graça se pensarmos que, de facto, as pessoas andam sempre agarradas às máquinas e parecem menos pensantes do que quando não as tinham. Será que as coisas estarão a mudar ou é só uma inversão, ou seja, o digital mete-se nas letras e as humanidades nas ciências? Leia-se sobre este assunto um artigo bem interessante no El País do último dia 10. Foi dele que tirei algumas das questões que acima ponho.