Humanizar
Já tive más experiências com médicos, que eram talvez bons patologistas mas ficavam a dever bastante como gente; e conheço quem tenha tido ainda piores experiências, pois nesses casos as doenças eram bastante mais graves e a comunicação do médico fez-se abruptamente, sem compaixão nem delicadeza. Um amigo médico queixava-se há tempos de falta de humanismo nos seus colegas de profissão e de uma crescente desumanidade em muitos serviços públicos de saúde, não só por falta de condições, mas também por falta de formação humana dos próprios médicos. Porém, pouco depois de a reitora da Universidade Católica escrever um artigo bem interessante sobre a decadência das Humanidades no jornal Público, o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto, anuncia que vai ser leccionada uma cadeira de poesia num mestrado de Medicina para despertar nos médicos o lado humanista que devem ter. Parabéns à escola e parabéns ao professor, o cirurgião e poeta João Luís Barreto Guimarães que, numa entrevista, diz que não tem receitas (essas são para os doentes), mas vai falar aos mestrandos essencialmente da vida, a mesma que tantas vezes se espelha nos seus poemas, premiados e traduzidos em muitos países. Vão ser 30 os alunos sortudos que vão poder ler poesia entre bisturis, batas brancas e, claro, sangue. Faz parte da vida e da poesia. Vamos ver se daqui sairão melhores pessoas e, logo, melhores médicos.