Imaginação e memória
Quando fui professora de Português nos longínquos anos oitenta, detectava facilmente os alunos imaginativos pelas suas intervenções e composições e aqueles cujo cérebro era quadrado e não voava; aos mais preguiçosos, para puxarem pela imaginação (sim, pode ser treinada), receitava exercícios quotidianos, como o de, por exemplo, se sentarem numa estação de metro a imaginar os motivos da viagem de todos os que saíam de determinada carruagem ou num cinema a atribuir profissões a todos os que estavam sentados na sua fila. Rosa Montero tem um livro delicioso sobre a imaginação (A Louca da Casa) e a imaginação é fundamental para quem escreve, tal como a memória, pois se conseguirmos reter tudo o que vemos e lemos teremos sempre mais material para usar na ficção. Eu não estava era à espera de que imaginação e memória fossem tão necessárias para, de três em três meses, compor a nova password para entrar no computador... Mas a verdade é que a sua construção tem cada vez mais exigências: não pode ter elementos do meu nome nem da minha data de nascimento ou telefone, não pode ter nenhum elemento das anteriores três palavras-passe que eu tenha escolhido, tem de ter obrigatoriamente maiúsculas e minúsculas, elementos numéricos e sinais de pontuação, e um número de caracteres não inferior a sei lá quantos... Enfim, garanto-vos que é mesmo precisa muita imaginação para a inventar, e o pior, depois, é lembrar aquilo tudo todos os dias quando se chega. Diria que nem para um escritor, que está habituado a memorizar e ter ideias, é tarefa fácil...