Inventar de novo (ou de velho?)
Às vezes, leio originais que me enviam e que não são bons nem maus – que não acrescentam nada mas não são igualmente cópias de coisa nenhuma. Digo que são textos que não chegam a ter um estilo, mas se calhar não é bem isso. Recentemente, um concorrente ao Festival da Canção foi acusado de plagiar uma canção da IURD (vi fotos do rapaz e achei que dificilmente ele escutaria um hino religioso) e, realmente, quem ouviu as duas músicas achou-as iguaizinhas. O concorrente negou o plágio, mas achou melhor retirar-se da prova. No meio da celeuma, li um trecho do cantor e compositor (e pastor) Samuel Úria em defesa do cantor desistente, que me pareceu muito interessante e apropriado; dizia assim: «Fazer uma canção, e querê-la acessível a públicos abrangentes, é um exercício de inventarmos aquilo que já nos parece existente (...) O objectivo é criar uma coisa nova que soa a familiar e de sempre. Por isso mesmo, resvala-se com relativa facilidade; qualquer escritor de canções já “inventou” melodias que mais tarde veio a descobrir, ou a lembrar-se, que existiam previamente.» Depois de ter lido isto, pensei que de facto acontece o mesmo com esses livros de que falei no início – os seus autores, sem saberem, inventam o que já estava inventado.