Inventar palavras
Não se é considerado um génio literário por dá cá aquela palha – e, tantos séculos passados desde a sua morte, Shakespeare continua a ser um génio para toda a gente que aprecia literatura e não só. Entre outras razões, porque foi dos escritores que mais contribuíram para o crescimento da língua inglesa. Para quem não saiba, ele inventou milhares de palavras novas que hoje fazem parte não só dos dicionários, mas do uso corrente dos falantes anglófonos – uma delas, bem aparentemente moderninha, é «manager», calculem. Mas existem muitas outras que lhe são atribuídas, embora não se saiba bem se foi ele realmente o seu inventor (é sempre possível que quem as criou ou pediu emprestadas a outras línguas fosse simplesmente analfabeto e não as pudesse registar). Em todo o caso, há exemplos bem interessantes – como «lonely», cuja primeira aparição escrita se deve à peça Coriolano, e «hurry» que consta da Parte I de Henrique VI (talvez antes os ingleses fossem menos apressados). E são também da sua pena os mais ou menos opostos «radiance» e «gloomy», bem como as palavras «critical» e «generous» (ambas derivadas do latim, mas inglesadas pelo nosso homem). Enfim, quando se celebra um autor pela sua inovação linguística (Mia Couto e o seu «esparramorto», por exemplo), não se deve esquecer que, por muita criatividade que exista hoje, ninguém supera o velho William.