Irmãos diferentes
Este ano, foram tantas as indagações e pedidos, por parte de livreiros e leitores, que – ao contrário do que tem acontecido – o livro vencedor do Prémio LeYa em 2014 é posto à venda no mesmo ano em que foi atribuído (e parece que esta vai ser a tendência a partir de agora). Chama-se O Meu Irmão o romance acabadinho de sair e escreveu-o o jovem Afonso Reis Cabral, um nado em Lisboa que se criou no Porto e só regressou à capital quando chegou a hora de estudar Literatura. É um romance invulgarmente maduro – quer em termos da escrita, muito segura, quer em termos do enredo, impiedoso – para um autor que conta apenas 24 anos; e disse-me um membro do júri que a notícia deixou toda a gente admirada na hora de abrir o envelope, pois esperavam um autor com 40 e tal, 50 anos, a idade, aliás, do narrador. Narrador que acompanha o irmão deficiente, portador de síndrome de Down, numas curtas férias no interior desertificado de Portugal, onde os pais – ambos falecidos – compraram em tempos uma pequena casa. É lá que se rememora a vida em comum dos dois irmãos, desde a cumplicidade que partilharam na infância (têm apenas um ano de diferença) até ao episódio estranho e algo violento que desencadeia uma possível ruptura no seu relacionamento. Sem sentimentalismos de qualquer natureza, este é um texto que trata o tema sensível da deficiência, mas também o dos afectos perdidos e o da crueza de um certo Portugal que está a morrer. Aconselho vivamente a sua leitura.