Jesus na primeira pessoa
Para o autor livro de que hoje vos falo, Jesus é uma coisa e Cristo é outra. Quando em pequeno Miguel Real explicou ao catequista que não acreditava que ninguém que tivesse morrido pudesse voltar à vida, este ficou tão chocado com aquela sinceridade que foi queixar-se à mãe do rapazinho, de quem recebeu a resposta que merecia. Foi desde então que o problema da Ressurreição não mais deixou de preocupar o escritor e, tantos anos volvidos, o levou a escrever esta Autobiografia de Jesus tomando a voz do Filho de Deus, já que nada se conhece que Jesus tenha deixado escrito pela sua mão e os Evangelhos praticamente não falam do que foi a sua vida familiar, a sua aprendizagem, as suas revelações, a sua conduta com as mulheres e, sobretudo, a sua tremenda solidão. É sobre tudo isso que trata este romance de um autor frequentemente atraído pelos assuntos religiosos. Com um final incrivelmente inventivo e inesperado, parece que aquele nó cego criado na mente do autor durante a infância vai certamente ser desatado durante a nossa leitura.