Lamentável
Ontem recebi uma comunicação sobre a nova modalidade do Prémio Literário José Saramago. Este prémio, que foi fundado em vida do escritor, que o entregaria pessoalmente a todos os vencedores até à sua morte, destinava-se a estimular a carreira de jovens escritores até aos 35 anos, premiando um romance de língua portuguesa publicado no biénio anterior. Além de ter sido decidido subir para os 40 anos a idade-limite quando o prémio foi entregue a Afonso Reis Cabral, em 2019, e de este ano não ter sido atribuído para que a próxima edição coincidisse con o Centenário de Saramago (abarcando, pensei eu, três anos de publicações), toda a filosofia do prémio foi alterada de um dia para o outro sem explicação: passou a ser um prémio para romances inéditos (tal como é o Prémio LeYa e o Prémio Agustina Bessa-Luís, ou seja, mais um) e o romance vencedor é publicado, obrigatoriamente, em Portugal pela Porto Editora (assim, nenhuma outra editora pode tirar vantagem do prémio, como até aqui acontecia, e quiçá é até uma maneira enviesada de caçar jovens autores feitos pelas outras editoras quando já estão no ponto certo). Que grande flop! Que desilusão! Além de considerar que ficam francamente lesados todos os escritores de língua portuguesa com menos de 40 anos que publicaram romances (alguns mesmo bons!) nos últimos três anos e que já não poderão concorrer, é uma lamentável falta de originalidade e, sobretudo, uma traição ao próprio patrono mudarem o espírito do prémio tal como ele o conheceu e celebrou. Ainda me custa mais saber que a Fundação que leva o nome do Nobel aceitou uma coisa destas.