Leituras atrasadas
Quando tenho livres alguns dias seguidos, como nestas férias, procuro ler alguma antiguidade que me escapou, a par dos romances acabados de sair e muito badalados. Este ano aconteceu com Nós Matámos o Cão Tinhoso, de Luís Bernardo Honwana, que recuperei da estante dos autores lusófonos mas foi relançado pela editora Maldoror recentemente. É uma colectânea de sete contos belíssimos, o primeiro dos quais dá nome ao conjunto, escrita originalmente em 1964 por um homem cujo talento foi descoberto por José Craveirinha, Rui Knopfli e Eugénio Lisboa, mas que lamentavelmente se separou muito cedo da literatura, casando-se decididamente com a política. Moçambicano, Honwana foi perseguido pela PIDE, torturado e preso, e este seu livro, que é uma denúncia do colonialismo, foi apreendido quando saiu. As actividades do autor como membro da FRELIMO não cessaram por causa disso e foi, além de uma personalidade bastante interventiva, um destacado jornalista e dirigente político, tendo, já com o país independente, desempenhado uma série de cargos nacionais e internacionais de grande relevo. Nós Matámos o Cão Tinhoso tem contos magistrais, sendo o meu preferido o que se chama "Dina" e que fala de uma rapariga negra que tem um encontro marcado com o branco que é capataz do pai.