Leituras atrasadas
Compro todos os dias o jornal e passo os olhos pelas gordas quando chego à editora; mas só leio o que me interessa mais tarde – por vezes, muitíssimo mais tarde. O artigo que hoje trago para aqui, por exemplo, é de 5 de Março e foi escrito na edição do 28.º aniversário do Público por Isabel Lucas – mas, por “faltíssima” de tempo, só o li com a devida atenção na sexta-feira passada. Diz-nos como a literatura escreveu o presente nos últimos 28 anos – e a verdade é que, sempre que se tratou do trágico e do horrível, ela sentiu antes de tudo necessidade de calar – e só depois, feito o presente passado, começaram a sair os livros sobre as coisas tremendas, magoadas, inesquecíveis. Houve excepções, mas poucas, e houve também estranhas coincidências, como a de livros que pareciam prenunciar um mal que nem se sabia que aí vinha. O artigo refere, claro, o 11 de Setembro, o Katrina, a guerra do Iraque, o ataque com gás sarin no metro de Tóquio... Fala, por isso, de Don DeLillo, Jonathan Safran Foer, Laurent Gaudé, Murakami e muitos mais. Mas o melhor é lerem, pois vale mesmo a pena esta maneira de olhar para trás e ao mesmo tempo adivinhar o que por aí virá... em literatura. Obrigada, Isabel.