Lembrar
A poucos dias do Natal, morreu-nos a escritora Leonor Xavier, que era uma chama acesa nas vidas de quem com ela se cruzava. Poucos dias depois, porém, 2021 não nos poupava a uma outra morte: a de João Paulo Cotrim. Os jornais renderam-lhe homenagem, como era suposto, mas foram muitíssimas as figuras de todas as gerações e áreas da cultura que lamentaram essa perda. O jornalista que sabia imenso de banda desenhada e dirigiu a Bedeteca de Lisboa ao longo de vários anos, o editor de livros, o grande leitor, o também escritor, vai decerto fazer falta a muita gente, amigos e autores. E eu, que apesar de o ter conhecido há uns vinte e cinco anos nunca fui exactamente próxima dele, tenho mesmo assim uma recordação que fez sempre do João Paulo alguém especialmente empático e caloroso. É que, nos anos 1990, quando escrevi o meu primeiro livro de poesia, intitulado A Casa e o Cheiro dos Livros, concorri com ele a um prémio literário na altura instituído pela revista Cosmopolitan e uma marca de cosmética que estava a lançar um perfume chamado Poème. Já não me lembro de todos os elementos do júri (recordo Maria Teresa Horta e Francisco José Viegas, e sei que a editora do livro seria a Maria da Piedade Ferreira, então na Quetzal), mas a pessoa que me telefonou nessa tarde a anunciar que eu vencera o dito Prémio Poème foi o João Paulo Cotrim e, por isso, a minha poesia estará sempre associada a essa boa memória. Perdemo-lo demasiado cedo: tinha apenas 56 anos e, ao que sei, ainda muita coisa para nos dar. Que descanse em paz.