Ler com os dedos
A Madalena, meu braço-direito na editora, nunca se cansa de aprender – é mesmo uma das suas maiores qualidades – e, depois de mestrados, pós-graduações, cursos livres e sei lá que mais, está neste momento no primeiro ano do seu doutoramento. A temática, confesso-vos, é pouco convencional – Materialidades da Literatura – e tive alguma dificuldade em entendê-la inteiramente; o que vale é que, de vez em quando, encontro coisas escritas por aí que ajudam a diminuir essa estranheza: uma delas foi a notícia de uma série de livros publicados para crianças cegas ou com problemas graves de visão (numa editora francesa chamada Les doigts qui rêvent) que estão longe de se parecer com páginas em braille – e aqui, sim, podemos falar à vontadinha de materialidade; se os meninos não vêem mas tocam e sentem, cheiram e ouvem, a ideia é contar-lhes as histórias com obras mais tácteis, com volume, formas, tecidos e papéis variados, com guizos e outros adornos barulhentos, que de alguma maneira se tornem eloquentes, ajudando-os a criar imagens a partir do toque, do perfume, do ruído; outros trazem inclusivamente um CD com a gravação da história e reproduzem as texturas da natureza para aproximar as crianças dos meios em que vivem as personagens. No mesmo artigo, descubro outra maravilha para crianças invisuais, O Livro Negro das Cores, com uma história que permite a crianças que não vêem descobrir as cores através de descrições que mostram que estas também se podem tocar, cheirar e sentir. O texto é impresso simultaneamente em braille e em caracteres convencionais (mas as crianças que vêem podem lê-lo de olhos fechados!) e as ilustrações são em relevo mas – coisa curiosa – apenas a preto e branco. Vejam o link que vos deixo. Boas materialidades para a literatura!