Ler é sexy
Uma vez convidaram-me para ir à Feira do Livro de Guadalajara, no México, e foi na sessão inaugural que ouvi Vargas Llosa dizer que se tornou leitor (e mais tarde escritor) porque teve uma infância difícil (a mãe, de quem ele era muito próximo, casou-se pela segunda vez e pô-lo num colégio interno porque ele e o padrasto se davam mal). A leitura permite-nos, de facto, ter outras vidas ou identificar as ficcionadas com a nossa (numa espécie de psicoterapia) e isso torna-nos mais flexíveis e compreensivos com os outros, ou seja, melhora as nossas relações sociais, até porque, como disse algures Shopenhauer, «ler significa pensar com uma cabeça alheia» – e, pondo-nos no lugar do outro, tornamo-nos menos egocêntricos. Leio num artigo de jornal que, por esta e outras razões, devemos tentar incutir o gosto da leitura nas crianças o mais cedo possível, incluindo porque a estrutura de uma história introduz conceitos como o da sequência de acontecimentos e a relação de causa-efeito e desenvolve a atenção – além de aumentar o conhecimento e o vocabulário e de ser uma actividade relaxante (ao que parece, é também por isso que muita gente acaba por adormecer a ler na cama). O que não sabia era que ler também era sexy... Diz o mesmo artigo que as estatísticas mostram que as pessoas que lêem são mais inteligentes e cultas, manejam melhor a língua, têm uma inteligência emocional mais desenvolvida, são mais compreensivas e que todos esses factores atraem os outros, inclusive sexualmente. E esta, hã? Este argumento pode convencer muitos fracos leitores, não?