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Horas Extraordinárias

As horas que passamos a ler.

20
Jan15

Língua franca

Maria do Rosário Pedreira

Toda a vida pensei que a nossa língua não tinha grande peso mundial por não ter um número de falantes suficiente e, sobretudo, por a maioria dos falantes do português estarem em países economicamente desinteressantes (pelo menos, até há pouco tempo, porque o Brasil já não é o que era). Como muita gente, achei que, se fosse jovem e tivesse tempo, ainda me poria a aprender chinês, tendo em conta o crescimento avassalador da China na última década e o poder que, se as coisas assim continuarem, eventualmente exercerá sobre o resto do mundo. Mas parece que a influência das línguas a nível global nada tem que ver, afinal, com a riqueza das nações ou a quantidade de pessoas que a falam. A revista Proceedings of the National Academy of Sciences publicou recentemente um estudo sobre a «língua do futuro» (entre os autores, figura um português, Bruno Gonçalves) que atesta que o que torna uma língua «franca» é a sua capacidade de mediar a comunicação entre línguas muito distantes entre si; ou seja, mapeando as redes que ligam as várias línguas mundiais (Twitter, Wikipédia e outras), os cientistas concluem agora que, mais do que o peso demográfico ou económico, o sucesso de uma língua deve-se à força dessas ligações. Assim, o chinês é falado por muitos, mas em regiões isoladas e, sendo igualmente de aprendizagem dificílima, não interage com os restantes idiomas e é considerado periférico. Já o português aparece na zona intermédia, ao lado de línguas como o sueco, do neerlandês e do dinamarquês, apesar de todas estas línguas serem muito menos faladas do que o chinês ou o árabe. O inglês lidera, claro, porque a maioria dos bilingues do mundo tem o inglês como língua materna ou segunda língua... Além de que, para se fazer entender em qualquer lado e qualquer situação, a maioria das pessoas usa o inglês. Parece que no Facebook, por exemplo, os portugueses escrevem imensas vezes em inglês nos seus murais.

5 comentários

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    António Luiz Pacheco 20.01.2015

    Ouvi dizer algures, ou li, que dominamos perfeitamente o idioma quando pensamos nele, em vez de no nosso que depois traduzimos mentalmente.

    Parece-me fazer sentido!!!!

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    Cristina Torrão 20.01.2015

    Faz todo o sentido, António Luiz Pacheco. Se pensar em português e traduzir para alemão, não lhe sai nada de jeito. A estrutura das frases é completamente diferente. Dou-lhe um exemplo muito simples: em português, diz "tenho frio" ou "estou com frio"; em alemão, diz "mir ist kalt", ou seja, usa um dativo - "mir" é o dativo de "ich" (eu). Traduzindo à letra, o alemão diz qualquer coisa como: "a mim está-me frio".

    Já para o francês será mais fácil traduzir à letra. Mas demora muito tempo, numa conversação, que se quer espontânea, pelo que, no fundo, se aplica o mesmo princípio.
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    António Luiz Pacheco 20.01.2015

    Hum... isso que dizes faz todo o sentido, Cristina!
    Nós que nascemos ouvindo e depois falando nem notamos ... e lembro um amigo nosso, francês de Narbonne-sur-plage, que tentava desesperadamente falar português e se exasperava: "cão!", "mão!", "pão!" ... vocês portugueses ladram!

    Aqui nas Áfricas, entre as pessoas mais simples ou iletradas também não se diz "tenho" a não ser no sentido de possuir - "tenho casa" , "não tenho marido"... diz-se em vez disso e quando é uma coisa que se sente, "estou a sentir frio!", ou "não quero comer, eu não estou a sentir fome"!
    Também dizem "estou a ir", "quando vais ir embora?", "quando vais vir"?

    Creio que na verdade tudo faz sentido e tem uma razão, talvez não lhes entre no entendimento do mesmo modo que a nós, a construção das frases e o uso dos verbos.

    Bom, "vou ir ainda no escritório".
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    Cristina Torrão 20.01.2015

    Ahahaha! O meu marido, no início, irritou-se mais com "bem, bom, sim, tem, têm, veem, vêm". Os meus alunos alemães também se irritavam e ironizavam: o português é uma língua cheia de ding-dongs!
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