Agora, quem quer candidatar-se ao ensino (a dar aulas) e tem menos de cinco anos de serviço, é obrigado a fazer uma prova de avaliação de conhecimentos e capacidades (mais conhecida por PAAC). Muitos acham um ultraje e uma humilhação terem de submeter-se a tal coisa, até porque uma instituição universitária lhes deu um diploma e isso prova que podem ensinar; mas não é essa a questão que venho hoje aqui discutir. O que me interessa é a notícia de que, dos 106 professores que fizeram (contrariados ou não) a prova de Português em Março último, mais de 60% tiveram nota negativa e a média no total dos candidatos foi de 46,2%. Li que na disciplina de Físico-Química aconteceu ainda pior, e não muito diferente na de Biologia e Geologia do Secundário, mas, como nunca fui boa a matérias científicas, aceito talvez melhor estas falhas. No entanto, que pode ser tão complicado na prova de Português que faça chumbar tanta gente? A interpretação? A ortografia? As regras gramaticais? A capacidade de escrever um texto coerente? Sinceramente, não faço a mais pequena ideia, mas a verdade é que encontro cada vez mais gente incapaz de escrever algo que faça sentido e com um mínimo de correcção. Até nos jornais tenho frequentemente de ler duas vezes o título da notícia para perceber de que estão a falar... Que se terá passado com o ensino da língua materna na escolas, incluindo a universidade? Há uns anos, uma professora universitária da área científica escreveu um texto, para publicação num catálogo que eu iria rever, que começava assim: «A ancestralidade das baleias dista de há muito tempo.» (No comments.) Não sei como esta senhora chegou a professora universitária, mas, se tivesse passado por uma PAAC, não teria chegado... Ninguém devia estar na Academia, muito menos a ensinar outros, sem conhecer bem a língua materna. Ninguém deve ensinar outros em qualquer grau de ensino sem saber a sua língua.
6 comentários
Artur Águas 19.05.2015
Atirar a pedra e esconder a mão ! É triste constatar como o espírito da inquisição ainda perdura nas mentes deste nosso país.
Num desespero de encontrar erros gramaticais, o nemo sum até os inventa:
1) "Agora, quem quer candidatar-se ao ensino (a dar aulas) e tem menos de cinco anos de serviço, é obrigado a fazer" - Esta frase está perfeitamente correcta; as gramáticas geralmente tem sempre um caveat sobre a arbitrariedade da colocação de vírgulas; neste caso compreende-se que MRP colocou-a ali porque a frase já ia longa e quis dar uma pausa ao leitor. Perfeitamente comum para quem já leu um livro de Camilo e Eça.
2) "Não sei como esta senhora chegou a professora universitária, mas se tivesse passado por uma PAAC, não teria chegado..." - Aqui vê-se o contrário; com um vírgula há uma palavra atrás não há razão nenhuma para outra logo a seguir, a não ser que se queira submeter o leitor a um pára-arranca desnecessário; a frase como MRP a escreveu é muito mais fluida e clara do que a sua versão. Mais uma vez, Eça faz isto até se perder a conta.
3) "Muitos acham um ultraje e uma humilhação terem de submeter-se a tal coisa" - O Meu Lindley/Cintra não aponta esta construção como errada. Uma tendência geral não faz uma regra gramatical.
4) "não faço a mais pequena ideia" - Agora está mesmo a ser picuinhas; isto é Português normal. Se isto valer um erro no exame, então há 10 milhões de analfabetos em Portugal.
Apenas comento o seu ponto 2). Mais correcto será: "Não sei como esta senhora chegou a professora universitária mas, se tivesse passado por uma PAAC, não teria chegado..." Veja a modificação da frase, também correcta: "Não sei como esta senhora chegou a professora mas, não teria chegado, se tivesse passado por uma PAAC..." Não adianta anadarmos por aqui como "coca-bichinhos" ou "coca-errinhos" a desmanchar a escrita dos outros; fazendo-o, estamos a expor as nossas fraquezas linguísticas e gramaticais.
Bolas! Lá saiu um "anadarmos" (ou a nadarmos), em vez de andarmos. Não consigo corrigir os meus textos nesta caixinha com letras cinzentas. Vou marcar a consulta no oftalmologista, já!