Linguajar censurado
Acabo de publicar um livro infantil de David Machado, com ilustrações incríveis de David Pintor, que é o melhor presente que pode haver para crianças que estão a aprender a ler: Chama-se O Alfabeto Nojento e é completamente escatológico. Acho que os miúdos sempre adoraram histórias com cocós, arrotos, puns, etc., e que por isso vão aprender o alfabeto em três tempos com as partidas (nojentas) do protagonista. Mas há sempre o perigo de os pais bota-de-elástico não pensaram assim… No Brasil bolsonarista, por exemplo, uma autora de literatura juvenil, Luisa Geisler, acaba de ser «desconvidada» de uma feira no interior de Rio Grande do Sul por indicação do prefeito, que alegou ter um dos seus últimos livros palavrões e «linguajar inadequado». Enfim… Os adolescentes falam bem? Sem palavrões? Não é suposto os leitores identificarem-se com as personagens nestas idades? Querem fazer leitores ou não? A editora já se pronunciou contra a censura sofrida por esta autora, que foi duas vezes vencedora do Prémio Sesc de Literatura e duas vezes finalista do Jabuti, além de ter ganho o Machado de Assis e estado na lista de smifinalistas do Prémio Oceanos de Literatura. Espero que os pais portugueses não venham advogar um alfabeto limpinho contra este livro que agora publico…