Livrarias perdidas
Em 2023 soube que duas livrarias, que tinham ambas o crachá lisboeta de "Lojas com História", iam provavelmente desaparecer. A primeira foi a Livraria Barata que, até por razões pessoais (moro perto e foi lá que comprei muitos dos meus livros escolares e não só), me causou uma enorme pena ver entrar em declínio. Começou pequenina com um grande livreiro, que passava livros clandestinos por baixo do balcão antes do 25 de Abril, e acabou uma grande livraria da capital numa zona que então tinha o seu charme. A direcção chegou a encarregar-me de editar uma revista nos finais dos anos 1990, para a qual entrevistei várias pessoas, algumas delas hoje sobejamente conhecidas, como Pedro Mexia. Mas a Barata já não andava bem há muito tempo e hoje é uma FNAC, com tudo o que isso possa querer dizer. Já a segunda livraria, a Férin, uma das mais antigas e prestigiadas de Lisboa, que fora comprada em 2016 pelo imparável e insubstituível José Pinho (que infelizmente nos deixou no ano passado), fechou recentemente as portas por tempo indeterminado. Diz-se que é para fazer um inventário profundo que impossibilita manter as portas abertas, mas, dada a sua localização privilegiada em pleno Chiado (e a abertura do enorme Centro Cultural no Bairro Alto que José Pinho já não pôde acompanhar mas já deve dar trabalho de sobra aos herdeiros), teme-se o pior... Curiosamente, em busca de novidades para ler, encontro numa livraria virtual em pré-lançamento dois romances que me trouxeram o assunto sobre o qual hoje escrevo: A Livraria Perdida, de Evie Woods, e A Livraria dos Pequenos Milagres, de Mónica Gutiérrez. Quase me apetece dizer que pode ser que haja um milagre nestas duas livrarias perdidas...