Livros, filmes e tabaco
Há muitíssimos anos, escrevi com uma amiga uma colecção de romances juvenis, na qual um adolescente de dezasseis anos fumava às escondidas. Numa cena, a irmã mais nova, toda desportista, criticava-o e prevenia-o do mal que aquilo lhe faria; noutra, ele era apanhado a fumar e repreendido pelo pai, levando como castigo não ir a uma festa onde tencionava pedir namoro à miúda por quem estava apaixonado (azar). Era, quanto a nós duas, uma boa forma de avisar os nossos leitores para os perigos de fumar cedo demais; mas, se a colecção tivesse sido publicada dez anos mais tarde, já não teríamos decerto podido incluir essas cenas, pois os cigarros de repente foram banidos dos livros e dos filmes (até o Lucky Luke deixou de fumar) para não dar (más) ideias aos mais novinhos: não vejo, não sei que existe. Porém, leio num jornal de há dias que essa preocupação foi chão que deu uvas nas séries e nos filmes do último ano: em nome do realismo, da verosimilhança, de uma moda e daquilo a que os mais radicais chamam «inconsciência», o cigarrinho voltou aos ecrãs (faria sentido que grandes fumadores na vida real deixassem de fumar numa biografia cinematográfica?). Diz o artigo que os jovens ficaram de novo mais expostos ao perigo do tabagismo, mas a verdade é que os nossos televisores voltaram a «fumegar». Eu deixei de fumar há sete anos e meio. Não comecei por causa do cinema, mas por ser filha de dois fumadores. Terá a literatura influência numa coisa destas? Quem sabe?