Longe
Já sabemos que o País investiu nos últimos trinta e tal anos na educação de jovens que não vão poder fazer render o peixe dentro de portas... Todos conhecemos seguramente alguém que, por falta de colocação, vive hoje no estrangeiro – e a verdade é que o número está a aumentar. Só entre os autores que publiquei na LeYa nestes quatro anos, reparei que emigrantes é coisa que não falta. Além de Aida Gomes, que é funcionária da ONU e está de momento a trabalhar na Libéria (mas, de qualquer modo, reside oficialmente na Holanda), Bruno Margo (o autor de Sandokan & Bakunine) vive em Itália, onde a mulher, creio, faz investigação; Hugo Gonçalves e Paulo Nogueira estão no Brasil há algum tempo (um é editor, o outro jornalista); o meu saudoso Paulo Bandeira Faria vivia em Vigo (embora fosse professor no Norte de Portugal) e Norberto Morais (o autor de O Pecado de Porto Negro) trabalha actualmente em França. A mais recente vencedora do Prémio LeYa, Gabriela Ruivo Trindade, vive em Londres há uma dezena de anos e agora estou a editar o romance de uma autora que reside na África do Sul, calculem. Dos que estão em Portugal, muitos também se encontram longe: tenho dois autores no Algarve (e nenhum é de lá), um que anda entre Aveiro e o Porto (mas nasceu na Figueira e já andou lá por fora muito tempo), dois no Porto, um em Pombal... enfim, na capital é que eles param pouco. Quando nos vemos, a festa é maior, claro, e já ando com vontade de promover um piquenique de escritores, para que todos se conheçam, que há-de ser bem melhor do que o do Continente – de fazer parar o trânsito, claro, mas por outras razões.