Lugar para Dois
De um finalista do Prémio LeYa, o livro de que hoje vos falo é para ler e ouvir (sim, inclui códigos que podem ser lidos com um telemóvel para se escutar uma canção alusiva ao episódio, até porque uma das personagens é um músico, e o autor, Miguel Jesus, também). Trata-se de Lugar para Dois, cuja acção decorre maioritariamente em Moçambique e que é tão cinematográfico que quase sentimos os cheiros e ouvimos os ruídos do mato. Conta a história de um homem bem-sucedido que, no final dos anos 1950, poderia escolher o futuro que quisesse, mas um acidente estúpido com a filha enche-o de uma culpa de que não se consegue libertar. Tenta recomeçar a vida longe e instala-se num lugar recôndito de Moçambique, onde uma velha negra o ajuda nas tarefas domésticas e lhe leva jornais que o põem a par dos movimentos independentistas nas Colónias e das mudanças por que a Metrópole vai passando. Porém, apesar do desejo de ficar sozinho, uma inscrição no tronco do embondeiro que enfeita a propriedade diz que aquele é um «lugar para dois», insistindo na paternidade que lhe estava destinada. E, por mais que Daniel a renegue por duas vezes, é nesse caminho que acabará por encontrar o próprio perdão. Belo, duro, ternurento – com uma banda sonora exclusiva! – este é um romance excepcional.