Máquinas de escrever
O Extraordinário Henrique Vogado, leitor deste blogue, enviou-me um interessantíssimo artigo do Courrier Internacional (e, para mim, algo assustador), publicado originalmente no Los Angeles Times. Fala sobre a plataforma Wattpad, criada no Canadá em 2006 para que os utlizadores da Internet partilhassem as histórias e os textos que escrevessem, não tendo de esperar pela publicação por uma editora para receberem críticas e comentários. Esta rede social de partilha literária atingiu em poucos anos cerca de 70 milhões de membros (toda a gente quer ser escritora!), a maioria dos quais do sexo feminino com menos de 35 anos. Observando os comentários laudatórios e entusiastas que alguns textos recebiam parágrafo a parágrafo (a sequência e o desfecho acabavam frequentemente por ser alterados de acordo com a vontade dos fãs), os senhores da Wattpad arranjaram maneira de criar ferramentas para identificar best-sellers em potência que, por sua vez, fossem adaptados ao formato audiovisual e originassem séries e filmes de grande sucesso. Investindo em Inteligência Artificial, no ramo de machine-learning, desenvolveram então um algoritmo próprio que pesquisa na plataforma em que há milhões de textos êxitos mais do que certos; e depois pega neles, reescreve-os sob a forma de guiões e vende-os a grandes produtoras. Se, como diz o artigo, tudo o que dantes se via na TV ou no cinema era decidido por meia dúzia de cabeças, agora o público tem uma palavra a dizer e participa, mesmo sem o saber, no produto final. Diz um dos senhores da Wattpad que qualquer dia os robôs também vão começar a escrever histórias e os humanos não terão outro remédio senão competir com eles... Já me devo ter reformado nessa altura.