Memórias de um hotel
Uma vez, encontrando-me num quarto de hotel em frente de um espelho, perguntei-me quantos rostos se teriam visto nele ao longo dos anos. Muitos, certamente... Os hotéis terão memória de quem passou a noite nos seus quartos? Se pudessem falar, sem ser através dos seus funcionários (que terão igualmente recordações sobre muitos hóspedes), quanto na verdade poderiam dizer e revelar? Este é o ponto de partida do novo livro de Nuno Camarneiro – Se Eu Fosse Chão –, uma colecção de textos que formam um todo e correspondem à experiência dos hóspedes que passaram, em três épocas distintas (1928, 1956 e 2015), por um Plaza Hotel em Portugal (quase me apetece adivinhar onde). Diplomatas, viúvos, actores, veraneantes, recém-casados, putas, refugiados, clandestinos, homicidas e até alguns fantasmas vão, assim, contar-nos a sua noite passada num hotel em que as paredes têm ouvidos, mas não bocas para reproduzir o que por lá se disse e viveu. Num quarto de hotel, pode começar uma história de amor ou acabar um casamento, pode inventar-se uma utopia ou sentir-se a dor de uma perna amputada, perdida na guerra, pode cometer-se um crime de sangue ou investigar-se um caso de adultério. Neste livro, como na vida, tudo pode suceder.