Menos é mais
Quando era miúda, a minha mãe contava às vezes uma espécie de anedota sobre uma professora que pedia aos alunos que escrevessem uma história de vida, mas que poupassem nas palavras, pois não queria ter de ler biografias muito longas. Então, um dos seus alunos mais preguiçosos resolveu o problema tão fantasticamente que ela acabou por lhe dar a nota máxima. O seu texto resumia-se à seguinte frase: "Nasceu morto." Sim, uma vida em duas palavrinhas e está lá tudo. O escritor hondurenho Augusto Monterroso (1921-2003) ficou muito popular no seu tempo por ter escrito um dos mais pequenos contos da literatura universal, que rezava assim: "Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá." É incrível a tensão desta frase e tudo aquilo que pode levar-nos a pensar; o sururu à volta deste atrevimento do autor foi tal que o conto acabou por inaugurar um género chamado "microficção" para o qual colaboraram grandes escritores de todas as latitudes nos anos seguintes. García Márquez, por exemplo, teve a sua expriência com esta história:
Uma criança de cerca de cinco anos, que se perdeu entre a multidão de uma feira, aproxima-se de um polícia e pergunta-lhe: "O senhor não viu, por acaso, uma senhora sem uma criança como eu?"
Riu-se, não riu? Foi também atribuído ao norte-americano Ernest Hemingway um mini-conto que é o mais impressionante de todos quantos li até hoje, pois é incrível (e terrível) como se consegue dizer tanto com tão poucas palavras:
"Vendem-se botinhas de bebé, nunca usadas."
Menos às vezes é mais. Se conhece outros bons como estes, e assim pequenos, partilhe.