Metais
Na mesma semana em que eu deitava uma última olhadela às provas de uma edição revista de Os Dias de Saturno, de Paulo Moreiras (a sair em princípios de 2024), estava a ler em casa um pequeno livro de poemas de José Carlos Barros (nascido em Boticas) intitulado Lítio e publicado numa colecção muito especial que se dedica aos elementos da Tabela Periódica, sob a batuta de João Pedro Azul, que deve ser assim uma espécie de químico-chefe. Foi curioso por variadíssimas razões, sendo a primeira o facto de o romance Os Dias de Saturno ter como tema central justamente a transmutação dos metais em ouro, a alquimia; mas também porque foram quase simultâneas essas duas leituras e as notícias, então vindas à baila, relacionadas com o lítio, sobre o que levou, no fundo, à queda do governo de maioria socialista. Foram metais a mais numa semana, mas, se no caso do romance de Paulo Moreiras esconderei para já o essencial, guardando-o para quando o livro estiver disponível, não resisto a partilhar um poema de Lítio que, sendo sobre lítio, é também sobre um outro metal, mais do nosso encanto. Leiam-no e desfrutem. Bom feriado.
De entre os metais
O ferro escolho de entre
os metais
em vez da prata,
do lítio, do
ouro,
em memória dos portões
dos pátios, do garfo
e da faca, das aivecas
do arado,
da grade
da varanda,
como exemplo do que está
ao serviço
das causas
e das pessoas
comuns.