Morte assistida
O papa Francisco ficou zangado com Portugal por ter sido finalmente promulgado pelo Presidente da República o decreto que permite a morte assistida. Gosto do papa Francisco e adoro o seu sorriso e algumas das suas tiradas corajosas, mas sou claramente a favor da eutanásia e, por mim, estendê-la-ia até a outro tipo de casos menos drásticos. Admiro, de resto, a coragem de alguns para decidirem a hora da sua morte (seja por suicídio ou morte assistida), como aconteceu, por exemplo, com Stefan Zweig ou o escritor flamengo Hugo Claus. O primeiro fartou-se do mundo tremendo em que vivia e matou-se juntamente com a mulher no Brasil, o que, passe o paradoxo, é uma morte bonita. O segundo, que sofria de Alzheimer, deu uma entrevista à televisão e, quando se viu no pequeno écran uns dias depois, percebeu que já não estava em condições e resolveu que não queria fazer figuras tristes; sem dizer nada a ninguém, passou uns meses a organizar a sua partida, almoçou com todos os amigos para se despedir e, num belo dia, deu entrada pelo seu próprio pé numa clínica onde o ajudaram a morrer. Duas histórias que podem parecer realmente chocantes a alguns, sobre tudo aos católicos, mas que a mim me parecem actos de grande lucidez.