Mudam-se os tempos
A notícia de que José Rodrigues dos Santos era considerado pela maioria dos portugueses (a amostra de pessoas que responderam ao inquérito foi de 28 000) o melhor escritor nacional deixou obviamente muitos amantes da Literatura escandalizados (talvez se tivessem já esquecido de que há uns anos, num inquérito promovido pela televisão, Salazar fora considerado a figura portuguesa mais importante de sempre). Uns dias depois, li um pequeno artigo sobre recordes, que incluía os livros de ficção mais vendidos desde a publicação, e concluí que, de facto, os tempos mudaram e, com eles, também as vontades (desculpem roubar a expressão a Camões, mas não estou ainda preparada para citar Rodrigues dos Santos). Parece que até há pouco tempo a obra ficcional que tinha chegado a um maior número de leitores era A Tale of Two Cities, de Charles Dickens, que vendera mais de 200 milhões de exemplares em todo o mundo (suponho que a escola de língua inglesa a tivesse integrado nos programas de ensino); e parecia estar de pedra e cal até que a saga de Harry Potter lhe tomou o lugar, vendendo mais de 450 milhões no conjunto dos sete volumes. O problema não está, mesmo assim, em comparar Dickens e J. K. Rawling, mas em saber que o livro do primeiro será também provavelmente destronado muito em breve pelas Cinquenta Sombras de Grey, que já passou a barreira dos 100 milhões e saiu há menos de meia dúzia de anos. Outra razão para quem gosta de livros ficar escandalizado.