Mulher de escritor
Li um artigo muito interessante publicado no Dia da Mulher em jeito de homenagem às caras-metades de alguns escritores. Começava por dizer que não é fácil viver com alguém que carrega permanentemente dentro de si histórias e personagens, dedicando menos tempo do que seria desejável à realidade, e que depois passa por frequentes crises de vazio e depressão entre livros. Mas algumas das mulheres mencionadas no artigo não estiveram apenas a tratar da casa e dos filhos, ou a gerir as contas domésticas (também houve mulheres assim, claro); algumas estiveram mais ao lado do escritor do que à sua sombra e foram determinantes para o trabalho dos maridos. A mulher de Tolstoi, por exemplo, copiou nada mais nada menos do que sete versões de Guerra e Paz, e a de Nabokov, além de dactilografar e comentar os seus romances, era a sua motorista particular: levava-o à Universidade num Oldsmobile e ouvia as suas aulas entre os estudantes… Houve ainda tradutoras e editoras entre as mulheres de alguns escritores – a jovem mulher de Dostoiévski tê-lo-á, segundo se diz, ajudado a terminar o original de O Jogador. Nem todas, porém, tiveram a sorte de participar positivamente na vida dos maridos e houve quem tivesse até desistido da própria carreira – como a mulher de Hermann Hesse que, maltratada pelo marido e louca com as suas infidelidades, acabou por deixar de tocar (era pianista) e terminou os seus dias num hospital psiquiátrico.