Na Indochina
Antes de férias, comuniquei que estava de regresso a alguns autores clássicos – e cheguei a escrever sobre livros de Steinbeck e Camus. Mas na verdade não me fiquei por aí e deliciei-me com outros, entre os quais Graham Greene e o seu O Americano Tranquilo que, de resto, partilhei com o Manel (já se sabe, isto das leituras atrai sempre quem está perto). A história passa-se na Indochina durante a guerra com os Franceses e envolve na mesma trama o narrador – um jornalista inglês que se adaptou ao Vietname e não tem qualquer desejo de regressar à pátria –, o jovem americano Pyle – tranquilo, ingénuo e um pouco tonto, mas a trabalhar para os Serviços Secretos dos EUA – e a bela Phuong – uma rapariga local que vive com o primeiro há dois anos mas é desejada pelo segundo, união que agrada à irmã mais velha, que vê nela uma hipótese de um bom casamento (o jornalista é casado, mais velho e sem bens). Mas o triângulo amoroso e o que se passa com cada um dos seus vértices ultrapassam grandemente a questão romântica, e o brilhante Greene dá-nos uma visão sublime das forças em jogo numa guerra sangrenta que causou muitas mortes a civis, ao mesmo tempo que vai desvendando a vida do protagonista e as acções inesperadas do americano tranquilo entre emboscadas, viagens perigosas e bombardeamentos em praças e cafés de Saigão e Hanói. Deixando-nos a nós, leitores, numa guerra de nervos até à última página, este romance é realmente uma delícia de construção.