O beijo do morto
Na semana passada, nas Correntes d'Escritas, foi muito bom participar dos lançamentos dos novos livros de Juan Vicente Piqueras (O Quarto Vazio) e João de Melo (Longos Versos Longos). Deste último falarei mais tarde aqui no blogue, mas queria dizer desde já que o livro de Piqueras é belíssimo e, como o título indica, fala da morte. No entanto, o autor espanhol (quase valenciano) contou uma história hilariante nas Correntes d'Escritas: que, na pequena aldeia donde eram os avós (camponeses analfabetos) e onde passou a sua infância, era costume, quando alguém morria, as crianças irem beijar a pessoa morta. Ora, explicou ele, sendo os rapazes deste meio pouco dados a mimos e bastante ariscos, chegavam à adolescência e percebiam que praticamente só tinham beijado mortos até então, pelo que de repente só queriam namorar as miúdas todas do lugar. A sua intervenção foi, de resto, muito bonita, entremeada pela leitura de poemas, mostrando que este livro já premiado lá fora tem absolutamente de ser lido. Mesmo aqueles que habitualmente não compram poesia, não terão razão para não abrir a excepção. A edição é da Assírio & Alvim.