O escritor que sabia fazer rir
Fiquei cheia de pena quando, na semana passada, li sobre a morte do escritor britânico David Lodge. Era um homem muito simpático (e também bastante surdo) que cheguei a conhecer em Lisboa; mas o que me liga a ele são os seus romances, muitos dos quais publiquei na primeira editora onde trabalhei, há um ror de anos, começando, se não me engano, por Um Almoço nunca É de Graça. Mas o meu preferido foi, sem dúvida, Terapia, com o protagonista a ler Kierkegaard para ver se atinava consigo próprio (a mulher pedira-lhe o divórcio e ele nem dera por que havia algo de errado com o casamento), e a ir de fim-de-semana com uma nova conquista para as Canárias, onde se tornou intimidante ir à casa de banho e ficar com um cocó entalado (chorei a rir com a cena que quase acabou com o romance). Também recordo vivamente Notícias do Paraíso, sobre pacotes de férias que acenam com o Paraíso e são um fracasso completo, até porque passara pela mesma experiência num longínquo arquipélago em que, no final do terceiro dia, já não havia nada que ver e, ainda por cima, era noite às cinco da tarde (eu tinha ido no nosso Verão...). Professor e romancista de excepção, Lodge honrou realmente o proverbial humor britânico e vale muito a pena lê-lo. Há muitos livros traduzidos em português.