O essencial
Já aqui contei uma vez a história de quando a minha mãe começou a descrever uma cena com demasiados detalhes e frequentes desvios (nunca mais chegava ao fim) e o meu irmão mais velho, impaciente, lhe disse que deixasse, por favor, o Proust de lado e fosse direita ao assunto. Tratando-se de criação literária, nem todos os autores são como Proust, evidentemente, mas é muito difícil encontrar um romancista que diga apenas o essencial, que seja contido, económico, seco e mesmo assim agradável. Serão poucas as obras de ficção que não têm aquilo a que chamamos «palha», algumas passagens ou páginas que por vezes nem decorativas são e, portanto, podiam sair; mas, enfim, ficaram lá talvez apenas porque é muito complicado para um autor deitar fora o que escreveu. Por falar em contenção, em reduzir as coisas ao essencial, encontrei por aí esta maravilha que vos deixo abaixo. Devia ser dia de futebol, o padre que ficou sozinho na igreja queria, provavelmente, ir ver um jogo da sua equipa e, além disso, devia andar fartinho das confissões proustianas dos seus paroquianos. É preciso ter muita coragem para afixar uma coisa destas na porta de um confessionário. Mas é de se tirar o chapéu!