O livro do comendador
Se há figura que reúna a simpatia da maioria dos portugueses, é Rui Nabeiro, o fundador e presidente dos cafés Delta. Natural de Campo Maior, de família humilde, órfão de pai relativamente cedo, começou a trabalhar com um tio e acabou por tornar-se um dos maiores, mais ricos e menos exibicionistas empresários portugueses da actualidade. Além de ter dado emprego a muita gente, foi magnânimo com a sua terra alentejana, tendo, entre muitas outras iniciativas, criado um centro educativo para as actividades extra-curriculares das crianças, a que deu o nome da mulher (Alice) e patrocinado a investigação em biodiversidade na Universidade de Évora. Condecorado por Mário Soares e Jorge Sampaio, é também o assunto central do último romance de José Luís Peixoto, Almoço de Domingo. Ao que parece, depois de ter visto que o escritor dedicara um livro a Saramago (Autobiografia), o empresário ter-lhe-á sugerido que escrevesse a sua biografia, e o romancista contrapropôs-lhe fazê-lo personagem de um romance biográfico. Na verdade, em Almoço de Domingo, ouvimos o Rui Nabeiro do passado na primeira pessoa e, simultaneamente, vemo-lo no presente pelos olhos de um narrador que o imagina nos dias que antecedem o seu 90º aniversário e na festa de anos, rodeado de filhos, noras, netos e bisnetos. Mas não se trata de uma vida contada cronologicamente, antes feita de episódios (muitos deles desconhecidos do público, como a morte da irmã mais nova ou o convite para a inauguração da Ponte sobre o Tejo, e outros que talvez sejam uma espécie de extrapolações de Peixoto sobre ideias mais ou menos consensuais a respeito de Rui Nabeiro). Sem dúvida, esta é uma maneira bonita de homenagear «o senhor Rui».