O luto
Depois de termos perdido recentemente a enorme Joan Didion, talvez a pessoa que escreveu mais desassombradamente sobre o luto em livros como O Ano do Pensamento Mágico e Noites Azuis (respectivamente sobre as mortes do marido e da filha), volto a este tema por um pequenino livro de Chimamanda Ngozi Adichie, a escritora nigeriana que se tornou um fenómeno literário internacional, intitulado Notas sobre o Luto. Durante o que foi certamente um dos piores anos da sua vida, por conta da pandemia que a separou fisicamente da família (ela vive nos Estados Unidos, mas tinha os pais na Nigéria e alguns irmãos no Reino Unido, e não se viram durante muito tempo), o pai morreu sem se esperar. Parecia bem na última videochamada que os dois trocaram e, apesar da idade, nunca lhe falou de sofrer de quaisquer problemas de saúde. O choque foi enorme para a escritora, que era mesmo a menina do papá e que, para mitigar a sua dor, teve de escrever sobre o assunto alguns textos que são a sua forma de fazer o luto deste pai carinhoso e incrível, um académico sem peneiras e incorruptível num país onde ter status é, como veremos, bastante perigoso. São episódios partilhados por ambos, extremamente bonitos e sinceros, e também o relato do escândalo que é sempre qualquer morte imprevista, bem como a impossibilidade de sair para consolar e receber consolo, abraçando os que, tal como ela, sofreram o desgosto. Lê-se de um fôlego.